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Sandra São Thiago da C. Pereira

O Self-Healing e o Toque

Fisioterapeuta



Você conhece o Self-Healing? Já escutou falar? Sabe do que se trata? E quanto ao toque? Que importância damos ao toque? O que é exatamente o toque? Ele nos traz algum benefício? O que expressamos através do toque? O que passamos através dele? Qual, enfim, a relação entre o Self-Healing e o toque?


Bom, são muitas perguntas. Vamos tentar falar um pouco sobre este assunto.


Então, para começar, vamos falar sobre o Self-Healing.


Self-Healing é um método, como o nome diz, de autocura, utilizado para acionar as forças inatas de cura do próprio corpo, em busca da saúde original, do bem-estar, da qualidade de vida.


É, na verdade, uma mudança de hábitos. Uma quebra de paradigmas, de padrões restritos de movimento e pensamento. É uma renovação, a partir do momento em que entendemos e assimilamos os seus princípios e a sua essência. É, finalmente, uma filosofia de vida.


Foi desenvolvido na década de setenta pelo ucraniano Meir Schneider. Meir nasceu cego, com catarata congênita, submetendo-se a cinco cirurgias sem sucesso até os sete anos de idade. Foi alfabetizado em braile e possuía a carteira de legalmente cego pelo estado de Israel.


Aos dezesseis anos de idade, inconformado com sua situação, com a certeza em seu interior de que poderia mudar seu quadro, conheceu o método de exercícios visuais do oftalmologista americano, Dr Bates, e então resolveu iniciar tais exercícios, porém percebeu que, ao cuidar do restante de seu corpo, além dos olhos, sua visão cada vez apresentava-se melhor. Com isso, adicionou aos exercícios do Dr Bates, também exercícios corporais baseados na yoga, Feldenkrais, além de exercícios de visualização e outros exercícios desenvolvidos por si próprio, de acordo com suas respostas pessoais.


Com isso, desenvolveu sua visão funcional, recuperando mais de 60% de sua visão em um ano. E começou a passar adiante seus conhecimentos, sua experiência própria, quando, na década de oitenta foi para São Francisco/CA (EUA), legalizou seu método e fundou a School for Self Healing, na qual realiza até a data presente cursos de formação no método, atendimentos, workshops e palestras, lá e em vários países.


Publicou cinco livros em vários idiomas. O método foi trazido para o Brasil em 1989, e efetivamente começou a ser ministrado regularmente através de Beatriz Nascimento, terapeuta ocupacional, professora da UFSCar e portadora de Distrofia Muscular Progressiva (uma pessoa que estava fadada a uma cadeira de rodas naquela época). Beatriz Nascimento tornou-se uma excelente e ativa educadora do Método, e uma das fundadoras da Associação Brasileira de Self-Healing, em São Paulo, em 2001.


O Método trabalha baseado em alguns princípios, dentre eles:

  • um corpo não funciona bem em estado de tensão, portanto, o relaxamento é imprescindível para um corpo saudável.

  • Possuímos mais de 600 músculos em nosso corpo e só utilizamos em nosso dia a dia, efetivamente, em torno de 50 a 60 destes músculos. Devemos potencializar a utilização do sistema músculo esquelético, fazer movimentos e atividades não usuais, bem como ativar em potencial o nosso sistema nervoso central e periférico.

  • Através da respiração profunda, suave e completa nutrimos mais as células de nosso corpo, dando-lhes energia por meio do oxigênio, e assim teremos todos os sistemas funcionando de forma mais saudável.

  • Devemos aprender a ativar o nosso sistema nervoso central através da visualização, ou seja, melhorar a funcionalidade do mesmo levando o input do que consideramos o “correto” ao cérebro.

  • Através da visualização e dos movimentos não usuais estimulamos a plasticidade neural.

  • E por fim, um corpo necessita distribuir bem o oxigênio trazido à circulação, bem como todos os outros nutrientes trazidos através de hábitos saudáveis de alimentação, e isso podemos conseguir através da massagem.

Então, ao trabalharmos com o Método, além da mudança de hábitos em relação à alimentação, pensamentos, ambiente etc, utilizamos cinco ferramentas, que são elas: respiração, movimento, massagem, visualização e quebra de padrão. Todas estas ferramentas devem ser introduzidas em nosso dia a dia, fazendo parte integral de nossa vida.


Há os princípios utilizados para uma visão saudável que serão abordados em outro artigo, para não nos estendermos mais do que já nos estendemos neste momento.


E o toque, sua relação com o Self-Healing? Como vimos, utilizamos a massagem, falamos de estímulo à circulação e relaxamento. Mas um princípio que não citei anteriormente e é de importância fundamental no Método é a consciência corporal. Para termos um corpo funcionando bem, precisamos conhecê-lo, percebê-lo, entendê-lo, precisamos ter uma relação estreita com o mesmo, afinal de contas ele nos pertence, só a nós. Assim, percebemos e entendemos seus sinais a todo momento e agimos de forma rápida e segura para não deixar com que as lesões, as disfunções ocorram.


Bom, então chegamos onde pretendíamos: no toque. Porque será que o toque relaxa, estimula a consciência corporal, ativa a circulação como citado? Será que utilizamos o toque somente para isso no Self Healing?

Não necessariamente. Tantas coisas acontecem durante uma sessão de Self-Healing onde se utiliza o toque. Relaxamento, ativação, consciência e extravasamento de emoções, além de um estreitamento, uma relação de confiança entre terapeuta e paciente.


Esse é o poder do toque.


Segundo Meir Schneider a massagem é uma boa ocasião, um belo presente, um gesto de amor e um instrumento de cura. Ele ainda relata que a massagem é uma habilidade antiga e respeitada, cujo valor foi temporariamente subestimado em nossa sociedade fóbica ao contato físico. Meir também estimula a prática da automassagem, pois, segundo ele, é um exercício mental maravilhoso de autoaceitação. É uma maneira formidável para dar-se a você próprio. É, também, um treino excelente para aprender a identificar-se com a “carne” (músculos) sob seus dedos – uma parte necessária da verdadeira cura.


Ao permitir a outra pessoa tocá-lo, acrescenta Meir, durante uma hora ou mais, com a intenção de aliviar sua tensão e dor, você sai com a sensação de ter sido cuidado com ternura, e todos nós necessitamos disso.


“O maior sentido de nosso corpo é o tato. Provavelmente, é o mais importante dos sentidos para os processos de dormir e acordar; informa-nos sobre a profundidade, a espessura e a forma; sentimos, amamos e odiamos, somos suscetíveis e tocados em virtude dos corpúsculos táteis de nossa pele.” (J. Lionel Tayler, 1921)


A pele, como uma roupagem contínua e flexível, envolve-nos por completo. É o mais antigo e sensível de nossos órgãos, nosso primeiro meio de comunicação, nosso mais eficiente protetor. O corpo todo é recoberto pela pele. A pele é o mais extenso órgão do sentido de nosso corpo e o sistema tátil é o primeiro sistema sensorial a tornar-se funcional em todas as espécies.


A pele responde aos sentidos e emoções, como exemplo, quando sentimos prazer ficamos arrepiados. O tato nos confere a sensação da realidade. Através da pele e do tato, sentimos frio, calor, ardência, dor, queimação, reagimos às emoções, sentimos prazer.


Através do toque terapêutico podemos desde acalmar bebês chorosos até curar lesões e distúrbios funcionais de diversos tipos.


Pesquisas comprovam que o ato de tocar é destacado como uma necessidade biológica, que influencia no comportamento e na inteligência e é fundamental para o desenvolvimento do ser humano, principalmente na infância quando a autoestima da criança e a capacidade de interação social são estabelecidas. Pesquisas comprovam, também, que crianças que são tocadas nos primeiros anos de vida, desenvolvem mais células de defesa e têm melhor funcionamento de seu sistema imunológico.


A linguagem dos sentidos, na qual podemos ser todos socializados, é capaz de ampliar a valorização do outro e do mundo em que vivemos. Tocar é de significado fundamental para o desenvolvimento físico e comportamental assim como de relacionamentos emocionais, afetivos e sociais saudáveis.


Através do toque ocorrem mudanças nos impulsos eletroquímicos. Existem mais de meia dúzia de tipos de receptores sensoriais na pele, que são ativados eletricamente quando estimulados. Os sinais táteis emitidos pela pele passam pela medula espinhal e daí para a região somestésica do cérebro onde, basicamente, estimulam os neurônios do giro pós-central, no ponto em que este mergulha no giro pré-central, para aí estabelecer relações não só com os neurônios das seis camadas do giro pós-central, como também com a área posterior somestésica do giro pós-central. As mudanças elétricas e químicas envolvidas devem servir para sugerir como o tato, em todas as suas formas, tem possibilidade de afetar o organismo vivo.


“...Uma vez que o toque é sempre individualizado, as comunicações interpessoais efetuadas por meio de toque serão provavelmente significativas de uma maneira que a linguagem verbal não consegue alcançar.” (Reva Rubin)


O filósofo Immanuel Kant chamava a mão de o cérebro humano externo, e o psicólogo G. Revesz observou que a mão é frequentemente mais inteligente e dotada de maior energia criativa que a cabeça, e que a mão representa o símbolo e o modelo de todas as ferramentas.


De acordo com Tiffany Field, a massagem terapêutica reduz o cortisol, hormônio ligado ao estresse, e aumenta a produção de dois neurotransmissores, a dopamina (que estimula a atividade do sistema nervoso central) e a serotonina (responsável, entre outras funções, pela liberação de diversos hormônios e associada ao estado de felicidade).


Bom, diante disso, percebemos a importância do toque em nosso dia a dia, seja o toque terapêutico, o toque amigo, o toque amoroso, o toque fraterno, seja qual for o tipo de toque, seus benefícios são infindáveis.


Fontes: Tocar: O significado humano da pele (Ashley Montagu)

Manual de Autocura, Vol I (Meir Schneider)


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